Este efeito, capturante do olhar, promovido pela tatuagem produz uma espécie paradoxal de satisfação, ou aquilo que a psicanálise chama de gozo. Satisfação que não se reduz ao prazer, mas cujo melhor exemplo é a satisfação obtida pelo masoquista. Efeito similar leva a formação de rodinhas em torno de um acidente de automóvel ou despertar a atenção em torno de uma tragédia qualquer, efeito de captura do olhar. Efeito de satisfação que pude observar na face de júbilo de uma criança da tribo Bororo ao ter sua pele atravessada por um pedaço de madeira, durante um ritual de passagem. Pois bem, há um gozo deste tipo envolvido na tatuagem, desde a sua confecção, que implica em dor, até o seu efeito sedutor. No caso da sedução o gozo se dá na insinuação, no dar a ver o corpo, ou no invadi-lo com um olhar. Há ainda o gozo do entre-visto ou do entre-dito, da ambigüidade da significação em jogo. A tatuagem realiza no registro do olhar o que a cantada representa no domínio verbal. Ora, se arqueologicamente a tatuagem se liga à marca do proibido (e do permitido por outro lado), nada mais sedutor que a insígnia da lei sugerindo sua ultrapassagem pela transgressão. Neste sentido ninguém faz uma tatuagem para si, mas para o olhar do outro. De fato a sedução vale mais pelo que esconde e sugere do que pelo que mostra, é um exercício que se poderia conceber como um fim em si mesmo. A tatuagem, na vertente da sedução fetichiza o corpo, o que é próprio de nossa cultura. Fetiche, como já se observou muitas vezes, vem de feitiço. Assim a tatuagem como que enfeitiça o corpo, aliás como inúmeras outras técnicas de embelezamento.