Tóxico, gás de buzina vira moda no interior de São Paulo
A estudante de direito Maria Luiza Perez Perossolo, de 18 anos, morreu na madrugada deste sábado, 26, depois de inalar gás de buzina. Ela estava com amigos, na casa de um vizinho, no condomínio Village Damha 1, em Rio Preto. Essa é a segunda morte no ano atribuída à inalação desse tipo de substância na região. No caso de Maria Luiza, ou Malu Perez, como era mais conhecida, ela teria ido a uma loja de conveniência de um posto de combustíveis, no Jardim Primavera, onde comprou uma buzina de gás de 250 ml, e retornou para o condomínio.
Segundo ocorrência policial, Malu começou a passar mal, debruçou na mesa e não levantou mais a cabeça. Percebendo que a jovem poderia estar com parada cardíaca, os amigos fizeram massagens no tórax, enquanto um deles ligou para o Corpo de Bombeiros. Quando o socorro chegou, Malu já estava morta. A lata do gás foi apreendida por policiais militares e vai ser analisada pelo Instituto de Criminalística. O corpo da jovem passou por perícia no Instituto Médico Legal para verificar se o gás realmente foi a causa da morte.
Comoção
Bonita, carismática, bem humorada e educada. Essas eram as imagens da estudante Maria Luiza Peres Perassolo entre amigos e familiares. No perfil dela no Facebook há diversas mensagens de condolências.
A família ainda não acredita que o gás de buzina possa ter sido provocado a morte de Malu, por isto, vão aguardar o laudo do IML. Os parentes querem saber pelo exame necroscópico se a jovem tinha algum problema de saúde, não detectado em exames de rotina.
Combate
A Vara da Infância e da Juventude de Rio Preto tem feito fiscalizações festas de condomínios na tentativa de combater o uso do gás de buzina e outras drogas, porém, tem enfrentado inclusive barreiras para entrar em todos condomínios da cidade, diz o juiz Evandro Pelarin.
“Lamentamos a perda de uma jovem que tinha uma vida inteira pela frente. Continuaremos firmes em nosso propósito de cumprir a lei em todos os locais da cidade, apesar das enormes dificuldades que ainda enfrentamos”, diz o juiz Evandro Pelarin.
Outros casos
Neste ano já são três episódios graves envolvendo a inalação de gás de buzina. Em janeiro, uma estudante de 17 anos, de Rio Preto ficou dez dias na UTI do hospital Austa depois de inalar gás de buzina em uma festa no condomínio Damha 1. No início de fevereiro, o estudante de medicina Luciano André Zaparoli, 33 anos, morreu supostamente, após inalar gás de buzina, em Fernandópolis.
Também em Fernandópolis, outra estudante de medicina morreu depois de inalar o mesmo tipo de gás em 2009. Mariana Finazzi de Almeida, na época com 20 anos, usou o gás de buzina durante uma festa universitária. Ela teve parada cardiorrespiratória e não resistiu. O laudo pericial concluiu que a jovem morreu por ingerir bebida alcoólica e inalar propano e butano.
Lei quer proibir venda de gá
Tramita na Câmara de Rio Preto um projeto de lei que proíbe a comercialização e a fabricação de gás de buzina em Rio Preto. Pelo projeto, quem for flagrado comercializando o produto pode ser multado em R$ 5 mil e até ter o estabelecimento lacrado. O autor do projeto, o vereador Paulo Pauléra diz que irá solicitar urgência na votação. Membro da Membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o pneumologista Leandro Cesar Salviano é radicalmente contra a venda indiscriminada do gás de buzina.
“A população só fica sabendo dos danos à saúde depois que uma pessoa morre ou é internada, mas os prontos-socorros recebem muitos casos em que os jovens precisam de socorro, mas como se recuperam e nem ficam internados, pouca gente fica sabendo”, alerta o médico. Segundo Salviano, os jovens compram o gás de buzina, porque a inalação de seus componentes, como os gases propano e butano, causam euforia.
As pessoas se enganam ao pensar que o produto é menos letal que outros alucinógenos como morfina, cocaína, maconha e lança perfume. De acordo com o médico, a inalação em grande quantidade do gás de buzina pode provocar queimaduras nas vias respiratórias, principalmente no nariz, e edema pulmonar, o que causa a insuficiência respiratória. “Se há uma parada do coração, praticamente nada pode ser feito.
O certo é levar a vítima até o hospital mais próximo, mas em geral, o paciente já chega morto” afirma o médico. Salviano é favorável à proibição da venda do gás de buzina, mas diz que a proposta pode ser inócua, já que o gás dos isqueiros também contam com as mesmas substâncias “Mas é importante as famílias acompanharem de perto o que os filhos fazem, porque nada impede que eles comprem gás de buzina clandestinamente”, conclui o médico.
ERRAMOS
Diferentemente do que foi publicado na reportagem “Estudante morre após inalar gás de buzina”, Teresa Perossolo não disse em entrevista à reportagem do Diário que a mãe da vítima estava descansando no litoral paulista, como afirma o texto publicado. Em sua fala, ela se referiu apenas ao pai biológico de Maria Luíza Peres Perossolo, que é separado da mãe da estudante. Teresa Perossolo também não afirmou que a garota estava sozinha em casa durante o final de semana.